Desde que me lembro, que bailava na minha cabeça a ideia de percorrer o Caminho para encontrar Santiago.
Quando era ainda menino deitava-me sobre a erva, no final das tardes de Primavera e passava longas horas a olhar o céu.
Cada nuvem representava para mim um personagem, um gesto, uma paisagem, uma acção.
Grandes flocos atravessados por raios de sol, contavam-me longas histórias em movimento.
Um dia apareceu o velho Santiago de barbas brancas, imaculadamente vestido, montando um cavalo de longas crinas cavalgando pela Via Láctea deixando atrás de si pegadas. Vinha na minha direcção, aproximou-se, parou e sorriu. Não sei se esteve assim uma eternidade ou um segundo. Abriu-se um espaço entre as nuvens, acenou-me e desapareceu num banho de luz.
Fiquei a acenar.
Extasiado e de mãos esticadas na sua direção gritei:
– Pai, pai...
– Sim!
– Viste?
– Vi sim, filho! – sempre com a voz pausada!
– Pai, como posso alcançar Santiago e seguir com ele no cavalo de crinas brancas?
– Começa a andar que ele vai esperar-te ao Caminho. Um dia irás a casa dele, abraçá-lo!
Nem me apercebi que o meu pai pousara a sua mão grossa sobre o meu ombro, sempre a sorrir – o meu pai está agora a sorrir-me!
Durante muito tempo continuei a deitar-me na erva no fim das tardes de Primavera.
Por várias vezes o velho Santiago apareceu de dentro dos novelos das nuvens ao fim da tarde. Umas vezes como guerreiro, outras como peregrino e muitas como Apóstolo, mas sempre com o mesmo encanto. Quando isso acontecia, era um momento muito íntimo que durava até que um raio de sol o atravessava e num aceno breve desaparecia na luz.
Ganhei este hábito de ficar olhando as nuvens ao fim da tarde, remoendo o sonho.
Cresci a ver as nuvens para encontrar o velho Santiago.
Um dia ao fim da tarde o meu pai subiu na nuvem e partiu com Ele no seu cavalo de longas crinas, desaparecendo na luz[1]. Naquele dia, ambos se esqueceram de me acenar – chorei!
Ainda hoje olho as nuvens ao fim da tarde para ver se os vejo e vêem-me as lágrimas aos olhos
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